segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Os pubs e a Copa

Pubs, na briga para receber frequentadores em horário estendido
A pouco mais de quatro meses do seu início, a Copa do Mundo não frequentava exatamente o topo da pauta ou despertava muito interesse nas ruas da Inglaterra. Um time inconsistente, o grupo duro definido no sorteio (Itália, Uruguai e Costa Rica) e o tradicional pessimismo inglês com a própria seleção certamente colaboravam para isso – até que uma nova variável foi adicionada à equação: os pubs.
A questão toda tem origem no horário, ou melhor, no fuso horário. Com os jogos previstos para acontecer às 13h, 16h, 17h, 19h e até 22h (só um, Costa do Marfim x Japão) de Brasília, os pubs estariam fechados durante algumas partidas do Mundial, porque os últimos confrontos começariam às 23h aqui do Reino Unido. Como a legislação obriga os estabelecimentos a encerrar as atividades às 23h, o encontro de Inglaterra e Itália, agendado para as 19h de Brasília (23h de Londres), no dia 14 de junho, por exemplo, não poderia ser visto em um pub.
Para contornar o problema, a BBPA (British Beer and Pub Association), associação que representa o setor, pediu ao Home Office (Ministério do Interior) uma licença especial que permitisse a todos os pubs continuar funcionando por duas horas a mais, até à 1h, durante dois finais de semana – o de abertura do torneio (13 e 14 de junho, sexta-feira e sábado, o que abrangeria Inglaterra x Itália) e o que antecede a final (11 e 12 de julho).
Refúgio para assistir futebol na Inglaterra
Em um país em que exceções à regra são poucas, o pedido do segmento pode parecer abusado, mas o histórico recente permite pensar o oposto. Tanto no fim de semana do casamento do Príncipe William com Kate Middleton (29 e 30 de abril de 2011) e no que antecedeu a comemoração do Jubileu de 60 anos da Rainha Elizabeth II no trono (1 e 2 de junho de 2012), os pubs foram especialmente autorizados a seguir servindo até à 1h da manhã.
Dessa vez, porém, o Home Office, negou o pedido (no último domingo), alegando que a Copa do Mundo não era um evento único como as datas ligadas à família real, o que enfureceu frequentadores de pubs por todo o país. A Football Supporter’s Federation (algo como a Federação dos Torcedores de Futebol) apressou-se em dizer que a decisão era uma “grande vergonha” para aqueles que não podem pagar para acompanhar a Seleção Inglesa ao Brasil. “Para muitos fãs a coisa mais próxima de assistir um jogo ao vivo é a vibração do pub”, disse Graham Brunskill, representante dos torcedores, ao jornal Daily Star Sunday.
A questão pode parecer menor aos olhos brasileiros, mas o pub é uma verdadeira instituição britânica, tão amada – e sagrada - quanto a realeza. Pelos números da BBPA, existem cerca de 50 mil deles na Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, que empregam nada menos do que 980 mil pessoas.
Já tradicional, o hábito de assistir futebol no pub ampliou-se nos últimos anos, impulsionado pelo aumento dos preços dos ingressos nos estádios e também pela seca de jogos transmitidos pela TV aberta - bem ao contrário do Brasil, eles são uma raridade por aqui. Tanto a Premier League (primeira divisão inglesa) quanto a Championship (a segunda) só podem ser acompanhadas nos canais por assinatura. Quem não paga televisão a cabo tem direito a ver só as partidas das seleções inglesas (masculina e feminina) e um jogo da Champions League (o principal campeonato europeu de clubes) por rodada - normalmente se envolve algum clube inglês. Ou seja, para ver o time do coração, o inglês vai mesmo ao pub, em parte pelo ambiente, em parte porque é o único lugar ainda acessível às classes mais baixas para ver futebol. Vale lembrar, a Copa do Mundo será transmitida pela TV aberta (BBC) no Reino Unido.
Tão democrático que no pub entram até os cachorros
Percebendo a bola de neve em formação – especialmente considerando as eleições gerais agendadas para maio do ano que vem -, o primeiro-ministro conservador David Cameron veio a público hoje para contradizer o próprio ministro, pedindo que a extensão do horário de funcionamento dos pubs seja “repensada”. Segundo fontes não reveladas do governo ouvidas pela BBC, está praticamente certo que a cerveja continuará fluindo dos barris até a 1h da manhã, pelo menos durante o jogo da Inglaterra contra a Itália, no dia 14 de junho.
De acordo com a BBPA, o beneplácito governamental pouparia bastante burocracia, uma vez que os pubs também podem entrar com pedidos individuais para permanecer abertos pelas horas extras – ao custo de 21 pounds cada. Brigid Simmonds, a chefe-executiva da associação, deu duas informações à BBC que ajudam a compreender a atitude do primeiro-ministro. A permissão para seguir aplacando a sede dos seus frequentadores por quatro horas adicionais no final de semana de 11 e 12 de julho adicionaria 21 milhões de pounds à economia britânica, E, por fim, a estimativa dela é de que durante a última copa europeia de seleções (a Euro 2012, realizada na Polônia e Ucrânia), 4 milhões de pessoas – e potenciais eleitores – foram aos pubs do Reino Unido para assistir os jogos...

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