Herança viva e em cores de todo o sofrimento durante o sangrento conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, os murais de Belfast são uma aula de história ao ar livre. Os motivos das pinturas vão da mitologia celta à luta pela independência irlandesa, de homenagens às vítimas dos confrontos – pessoas randomicamente assassinadas em atentados à bomba ou os que morreram voluntariamente em greves de fome de protesto -, passando pela miríade de grupos paramilitares surgidos e extintos durante as três décadas das
Troubles.
Enquanto o imaginário republicano se distribui ao longo da Falls Road e adjacências, no maior gueto católico da zona oeste da cidade, as visões loialistas de sua ligação indissolúvel com o Reino Unido colorem a região da Shankill Road, poucos quarteirões ao norte.
Para facilitar o entendimento, os murais abaixo foram divididos entre Republicanos e Loialistas e estão agrupados por afinidade dos assuntos retratados.
MURAIS REPUBLICANOS
Easter Rising 1916
Homenagem ao Levante da Páscoa (
Easter Rising) de 1916, em Dublin, que apesar de derrotado pelos britânicos mudou radicalmente a opinião pública sobre os republicanos e abriu caminho para a independência, em 1922. No desenho, um voluntário empunhando um fuzil é retratado em frente ao prédio sede dos Correios, na capital da Irlanda. Os escudos são das quatro províncias irlandesas: Ulster, Munster, Leinster e Connacht. No meio do mural, o lírio branco simboliza o sacrifício dos que morreram lutando pelo estabelecimento da república.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
Condessa Markievicz
Uma das líderes do Levante da Páscoa de 1916, foi sentenciada à morte pelos britânicos após a derrota da rebelião, junto com outros 15 comandantes do movimento. Temendo uma deterioração ainda maior da própria imagem na Irlanda ao executar uma mulher, o governo do Reino Unido comutou a pena dela, em 1918 – os demais não tiveram a mesma sorte e foram fuzilados. Mais tarde a Condessa conquistaria nas urnas uma cadeira no parlamento britânico, tornando-se a primeira mulher a ser eleita para Westminster – seguindo a política republicana, porém, ela nunca ocupou a vaga. Seu nome soa como algo da Europa Oriental, mas ela era mesmo irlandesa – o sobrenome vem do marido, um conde polonês.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
Easter Lily
“Honre os mortos da Irlanda. Use um lírio da Páscoa”. Mais um mural com referência ao lírio branco, que simboliza os mortos na luta pela independência e pela República da Irlanda.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
Collusion Wall
Não é bem um mural, mas uma composição com a foto, nome, data e culpado pela morte (na visão dos republicanos, claro) de vítimas das
Troubles na Irlanda do Norte.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
West Belfast Taxi Association
Homenagem aos chamados
Black Taxis (Taxis Negros), que atualmente levam turistas em tours pelos murais de Belfast. Durante as
Troubles, nos anos 70, os serviços de ônibus foram suspensos nas áreas católicas, em razão dos conflitos. Sem transporte público, a solução veio da própria comunidade: viajaram à Inglaterra e adquiriram veículos velhos, estabelecendo um sistema próprio. O mural também lembra os oito taxistas assassinados em serviço por loialistas, entre 1975 e 1992.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
Ballymurphy Massacre
Em agosto de 1971, em meio ao processo de busca por armas e prisão de envolvidos com o IRA (Exército Republicano Irlandês) na área de Ballymurphy (área católica na zona oeste de Belfast), paraquedistas do Exército Britânico entram em conflito com civis e matam 11 pessoas, incluindo um padre, enquanto dava a extrema unção a um moribundo. Nenhum militar foi punido pelo incidente até hoje.
Onde: Beechmount Avenue – Área da Falls Road
Pat Finucane
“... se você não defender advogados dos direitos humanos quem irá defender os direitos humanos?” Pat Finucane foi um ativista assassinado em sua casa, em fevereiro de 1989, no norte de Belfast, por membros da UDA (Ulster Defence Association), o maior grupo paramilitar loialista. Investigações posteriores mostraram que as forças de segurança britânicas mantinham agentes operando dentro da UDA e os republicanos acusam o Estado do Reino Unido como mandante da morte de Finucane. A frase inicial é de Rosemary Nelson, uma ativista de direitos humanos que também foi assassinada por loialistas, em 1999.
Onde: Beechmount Drive – Área da Falls Road
Plastic Bullets
Desde sua introdução nos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes durante as
Troubles, em 1971, balas de plástico e de borracha causaram a morte de 17 pessoas na Irlanda do Norte, fato lembrado nesse mural, com os retratos das vítimas, nome e idade – a mais jovem tinha dez anos.
Onde: Beechmount Drive – Área da Falls Road
Blanket Men
A figura de barba loira no centro do mural é Kieran Nugent, o primeiro dos chamados
Blanket Men (algo como “Homens da Manta”). Ao dar entrada na prisão de Long Kesh, em Belfast, Nugent, um membro do IRA condenado a três anos de prisão por ter roubado uma van, nega-se a usar o uniforme do presídio, declarando-se um preso político e exigindo manter as próprias roupas. Colocado em uma cela sem roupa nenhuma, é obrigado a se cobrir com uma manta. Outros presos do IRA imediatamente se juntam ao protesto (
leia mais no post “Troubles”). Abaixo da imagem de Nugent está transcrita uma frase dele: “A única forma de eles colocarem um uniforme de prisioneiro em mim é se eles o pregarem em minhas costas”.
Também aparece no mural Brendam Hughes, ou
The Dark (O Negro), como era conhecido, um líder do IRA que escapou cinematograficamente de Long Kesh em dezembro de 1973, enrolado em um colchão colocado na caçamba de um caminhão. Ele está representado em duas imagens – antes (de bigode) e depois da greve de fome de 1980, embrião do grande protesto do ano seguinte.
À esquerda há ainda uma “lembrança” à primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, em um cartaz de “Procurada” por “assassinato e tortura de prisioneiros irlandeses”.
Onde: Beechmount Drive – Área da Falls Road
Bobby Sands
Comandante em chefe dos prisioneiros republicanos em Long Kesh, Bobby Sands foi o líder da greve de fome de 1981 – e o primeiro dos dez homens a morrer de inanição dentro da prisão, depois de 66 dias recusando a comida colocada todos os dias nos pés de sua cama. Ele tinha 28 anos de idade. Enquanto negava-se a se alimentar, Sands foi apresentado pelo IRA como candidato ao parlamento britânico – e elegeu-se com 30 mil votos, mais do que a primeira-ministra Margareth Thatcher havia recebido no próprio reduto eleitoral.
Ao lado da sua imagem são listadas duas de suas frases mais famosas: “Todos, republicanos ou não, têm seu papel particular para representar” e “... nossa vingança será a risada de nossas crianças”. Sands é retratado como “poeta,
gaeilgeoir (falante de gaélico, uma das línguas oficiais da Irlanda), revolucionário e voluntário do IRA”. Esse talvez seja o mural mais fotografado de Belfast.
Onde: Sevastopol Street – Área da Falls Road
The Hunger Strikers
Esse mural originalmente apareceu no Harlem, em Nova York, e depois foi transferido para Belfast. Sob as imagens dos dez presos que morreram durante os 217 dias da greve de fome de 1981 em Long Kesh e da palavra
Saoirse (Liberdade, em gaélico), aparece um poema de Bobby Sands, o líder do movimento: “Todas as coisas devem passar como uma só, para que a esperança nunca morra. Não há altura ou vontade sangrenta que um homem livre não possa desafiar. Não há fonte de força estrangeira capaz de dobrar um homem que sabe que o seu livre arbítrio nada pode matar. E disso nasce a liberdade”.
Em volta do poema, símbolos celtas se alternam a imagens de outros ativistas mundiais, como Nelson Mandela, Martin Luther King, Gandhi e alguns republicanos irlandeses históricos.
Onde: Falls Road
Frank Hughes
Pintado no aniversário de 30 anos da greve de fome de 1981, em 2011, o mural homenageia o segundo prisioneiro a morrer durante o movimento, Frank Hugues, retratado na imagem maior, rodeado por outros republicanos ilustres. Mais famoso pistoleiro do IRA e lendário pelas situações de risco das quais escapou ileso, foi capturado em um tiroteio com as forças de segurança britânicas em 1978. Acusado de matar 30 soldados e policiais britânicos (embora seus companheiros reconhecessem “apenas” 12), foi recolhido a Long Kesh, onde morreu após 59 dias recusando comida, aos 25 anos de idade.
A frase (“Não são os que podem impor mais, mas os que suportam sofrer mais que irão prevalecer”) não é de Hugues, embora fosse uma de suas favoritas. O autor é Terence McSwiney, um republicano irlandês que morreu em greve de fome contra a dominação britânica em 1920, em uma prisão inglesa.
Onde: Northumberland Street – Área da Falls Road
Long Kesh 1974
Esse mural marca um dos raros episódios em que republicanos e loialistas se uniram contra os britânicos: a noite de 15 de outubro de 1974. Revoltados com os abusos dos guardas e a política de detenção sem julgamento, 800 internos colocaram fogo em suas celas, queimando os chamados
compounds, área em que ficavam as celas. A ação foi toda comandada e realizada pelos republicanos, mas um acordo com os loialistas garantiu que as celas deles fossem usadas como um centro de primeiros socorros dos presos no combate com as forças de segurança. Cerca de 180 prisioneiros e guardas foram atendidos nos hospitais de Belfast naquela noite.
Onde: Falls Road
Falls Memorial Garden
Um dos jardins que funcionam como memoriais em Belfast, esse é centrado em um mapa da área da Falls Road, rodeado por 14 retratos de ativistas do IRA e moradores da região mortos durante as
Troubles. Abaixo de cada rosto estão inscritos o nome, idade, incidente e a rua em que morreram. Sobre o mapa, dois fuzis e um símbolo com a cabeça de um cachorro.
Onde: Falls Road
The Markets
Localizado logo ao sul do Centro de Belfast, esse gueto católico tem esse nome por ficar na região onde se estabeleciam os antigos mercados na cidade. No mural há sete rostos de ativistas do IRA provenientes da área mortos em ação. No centro, o desenho de três membros da chamada
IRA Active Service Unit (Unidade de Serviço Ativo do IRA), um deles mirando um lança-mísseis russo RPG7.
Onde: Friendly Way – The Markets
McGurk’s Bar
Bem debaixo do Westlink (uma autoestrada), o mural recria um
pub que funcionava nesse exato local até o dia 4 de dezembro de 1971, quando foi pelos ares em um atentado à bomba da UVF (Ulster Volunteer Force), um grupo paramilitar loialista. Dentro do bar morreram 15 pessoas, todas católicas, inclundo o proprietário (retratado na pintura como se estivesse à porta do estabelecimento), sua mulher e filha – outras 17 ficaram feridas. Até hoje ninguém respondeu pelo crime.
Onde: Esquina da North Queen Street com Great George Street – Centro
Grande Fome
O mural lembra a Grande Fome que se abateu sobre a Irlanda entre 1845 e 1852, quando um fungo ataca sucessivas safras de batata, da qual um terço da população dependia para sobreviver. Os cálculos mais recentes dão conta que 1 milhão de pessoas morreram de fome e outro milhão imigrou, dando origem à grande diáspora que espalhou irlandeses pelo mundo e reduziu a população da ilha em um quarto. A Irlanda é o único país europeu que tem menos gente do que no século XIX, em torno de 4 milhões - eram 8 milhões em 1840, antes da fome. O desenho mostra um veleiro deixando a ilha e na trilha dele a fome, representada por um casal sustentando uma menina morta, sob o olhar dos irmãos.
Onde: Crocus Street – Área da Falls Road
MURAIS LOIALISTAS
Quis Separabit
O mural mostra o brasão da Irlanda do Norte, criado em 1924 após a Partição de 1922, que manteve os seis condados do Norte dentro do Reino Unido. Embora tenha sido abolido em 1973, após o governo britânico instituir o governo direto da província, ainda é uma imagem importante para os loialistas, por representar a ligação da região a Westminster. De um lado o leão britânico e de outro o alce irlandês suportam o escudo do Ulster, com a mão vermelha que é seu maior símbolo. Abaixo do brasão, o moto que é quase um desafio loialista, em latim:
Quis Separabit (Quem nos Separará).
Onde: Shankill Parade - Área da Shankill Road
Red Hand of Ulster
Representação do mito que explica a origem da Mão Vermelha do Ulster, símbolo maior da província, usado tanto pelos republicanos quanto pelos loialistas. Reza a lenda que dois chefes de clã celtas desejavam a área e decidiram definir a posse através de uma corrida de barcos: quem atingisse terra seca primeiro teria direito à região. Um dos dois, ao perceber que iria perder a regata, decepa a própria mão e a atira para a margem, chegando à frente do próprio veleiro - e do rival -, garantindo para si os novos domínios.
Onde: Shankill Parade - Área da Shankill Road
King William III
Outro grande símbolo para os loialistas, William of Orange (ou William III) foi o rei protestante que derrotou o católico James II em 1690, na Batalha do Boyne, em Drogheda, na costa leste da Irlanda. James tinha sido deposto do trono inglês por William em 1688 e tentava reconquistar a posição com ajuda dos irlandeses católicos e franceses, combatendo tropas protestantes inglesas, holandesas e do Ulster.
A vitória de William é vista como chave para a manutenção do domínio protestante no norte da Irlanda e até hoje, no dia da batalha (12 de julho), uma parada ganha as ruas de Belfast. Os participantes desfilam trajando laranja e carregando bandeiras do Reino Unido para relembrar a data, uma das maiores razões atuais de desentendimento com os católicos, que enxergam no ato uma provocação explícita, especialmente quando passa por seus bairros.
Onde: Shankill Parade - Área da Shankill Road
CuChulain
Talvez o mais surreal de todos os murais de Belfast, em uma competição acirrada com a Mão Vermelha do Ulster... É o retrato de Setanta, um herói da mitologia celta que ganhou fama ao matar um cão de guarda muito feroz de um chefe de clã, quando ganhou o novo nome, CuChulain. Sua imagem é usada tanto por republicanos como por loialistas – aparece na fachada da sede dos Correios de Dublin, por exemplo, para homenagear o sacrifício dos que morreram no Levante da Páscoa de 1916.
Nesse mural, o herói aparece empunhando a espada como defensor do Ulster, sob a bandeira da província. O surrealismo se completa com o papiro ao lado do guerreiro, um texto em apoio à identidade dos protestantes na Irlanda do Norte, escrito por um líder da Associação Quechua de Igrejas Evangélicas, do Peru.
Onde: Shankill Parade - Área da Shankill Road
69 Gold Rush
O mural relembra um episódio em 1969, quando uma área da Christopher Street estava sendo reurbanizada. No processo de demolição de um casarão vitoriano, algumas moedas de ouro voaram pelos ares. A notícia se espalhou rápido e em minutos havia centenas de crianças da vizinhança cavando no entulho, em busca do tesouro, no que ficou conhecida como a Corrida do Ouro de 69.
Onde: Hopewell Crescent - Área da Shankill Road
“We will not have Home Rule”
Esse mural foi estabelecido para marcar os 100 anos da
Ulster Covenant e homenagear Edward Carlson, também conhecido como Lord Carlson, o principal líder histórico loialista. Político unionista, ele organizou um abaixo-assinado com 400 mil assinaturas em 1912, quando toda a Irlanda ainda fazia parte do Império Britânico, contra o chamado
Home Rule em discussão na Inglaterra, que concederia o autogoverno aos irlandeses. Os signatários da
Ulster Covenant se comprometiam a fazer uso de “quaisquer meios necessários” para resistir à independência irlandesa e manter o Norte protestante conectado ao Reino Unido.
Em seguida à petição, Lord Carlson cria a UVF (Ulster Volunteer Force), com 100 mil voluntários armados, um exército particular e o primeiro grupo paramilitar loialista, criando pressão suficiente para que os britânicos desistissem de ceder o autogoverno aos irlandeses, temendo uma guerra civil. O movimento acabou levando à Partição, que separou os seis condados protestantes da Irlanda do Norte, em 1922, mantendo-os sob a proteção da coroa. A frase de Carson que ficou famosa e está na base do mural é simples: “Não teremos autogoverno”.
Onde: Shankill Road
Signing the Covenant
Outro mural em homenagem a Lord Carlson, que retrata o político assinando a
Ulster Covenant, sobre a
Union Jack, a bandeira do Reino Unido. Em cima do desenho, mais uma frase de efeito do loialista: “... nossa adorada posição de cidadania igualitária no Reino Unido”.
Onde: Moskow Street – Área da Shankill Road
Ulster to England
Do lado direito aparecem várias fotos da rainha Elizabeth II, demonstrando a devoção da Irlanda do Norte à soberana britânica, enquanto do lado esquerdo é transcrito um poema em inglês arcaico, uma declaração de amor do Ulster à Inglaterra.
Em uma tradução livre, seria algo assim: “Você pode encontrar outra filha com uma face mais loira do que a minha, com uma voz mais alegre e doce, e um olhar mais delicado do que o meu; mas não poderá encontrar outra que irá amá-la metade do que eu a amo”. A imagem com o poema é a reprodução de um cartão postal de 1912, que circulava durante as discussões sobre o autogoverno para a Irlanda e a busca de assinaturas para a
Ulster Covenant.
Onde: Crimea Street – Área da Shankill Road
Summer of 69
O mural é a lembrança do início das
Troubles na Irlanda do Norte, no verão de 1969, quando uma passeata em Derry explodiu na onda de violência e confrontos de rua que se espalharam pela província durante três dias e três noites. Em Belfast, católicos e protestantes se enfrentaram nas ruas, em uma verdadeira guerra campal. Ao final, 1.500 pessoas do lado católico tinham perdido suas casas, queimadas, contra 300 do lado protestante. O mural, em uma área loialista, mostra dois garotos em frente a ruínas das próprias casas, com uma
Union Jack (bandeira do Reino Unido) ao fundo - um deles carrega um tambor com as três cores britânicas (azul, vermelho e branco).
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Bayardo
Esse memorial marca o local em que havia um
pub, o Bayardo, detonado em um atentado à bomba do IRA no dia 13 de agosto de 1975, matando cinco pessoas e ferindo outras 60. Cercado pelas bandeiras da Escócia, Irlanda do Norte e Reino Unido, um mural de fotos apresenta os rostos dos cinco mortos, além de fotografias do que era o
pub e do que restou após a explosão. Há duas mensagens escritas: “Não esqueçamos” e “5 protestantes inocentes assassinados”. Difícil não relacionar o Bayardo com outro mural, do lado católico, para marcar o local de um atentado semelhante em 1971, no McGurck’s (
veja foto acima, em Murais Republicanos).
Onde: Shankill Road
We Will Remember Them
Mural em homenagem à UVF (Ulster Volunteer Force), o primeiro grupo paramilitar loialista, criado em 1913 por Lord Carlson. No centro, o símbolo da unidade, com a Mão Vermelha do Ulster no meio e a inscrição “Por Deus e pelo Ulster”. Na parte inferior, apoiados sobre as respectivas armas de cada período, a boina dos primeiros voluntários, o capacete das forças da Irlanda do Norte que lutaram pelos britânicos na Primeira Guerra Mundial e os gorros paramilitares usados durante as
Troubles. Na seção superior, fotos de Lord Carlson passando suas tropas em revista, em 1913, e os paramilitares herdeiros do movimento em ação durante os anos 70, 80 e 90. Embaixo de tudo a frase: “Nós nos lembraremos deles”.
Onde: C. Coy Street – Área da Shankill Road
Ulster Volunteer Force 1913
Mais um mural em homenagem à UVF (Ulster Volunteer Force), com o símbolo da unidade paramilitar e o desenho dos primeiros voluntários da unidade criada por Lord Carlson, em 1913. Abaixo da imagem, a frase: “Voluntários de Belfast Oeste Garotos da Shankill”.
Onde: C. Coy Street – Área da Shankill Road
Ulster Volunteer Force
Do lado esquerdo, o brasão da moderna UVF (Ulster Volunteer Force), o grupo paramilitar recriado em 1966. Do lado direito, sobre um fundo azul, quatro paramilitares da unidade trajando o tradicional uniforme negro e capuzes, com os característicos cintos brancos, empunham fuzis ao redor do símbolo da UVF e de cinco rostos de vítimas protestantes do confronto com o IRA.
Onde: Área da Shankill Road
UDA
Criada em Belfast, em 1971, a UDA (Ulster Defence Association) resultou da união de unidades paramilitares menores que surgiram do lado loialista após o início das
Troubles, em 1969. A maioria das suas ações – que resultaram em estimadas 400 mortes do lado católico – eram realizadas pelos UFF (Ulster Freedon Fighters), representados no paramilitar de capuz e vestimenta camuflada no centro do mural, empunhando um fuzil. A UFF foi colocada na ilegalidade pelos britânicos em 1973 e a UDA em 1992.
O desenho sugere uma conexão entre os militantes mais antigos do Ulster (Ulster Defence Union, de 1893) e os paramilitares modernos. O mural tem um efeito ótico que faz com que o observador se veja sob a mira da arma apontada no centro pelo homem do capuz, não importa de onde se olhe.
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Red Hand Commando
Homenagem a Stevie McCrea, membro de um grupo paramilitar loialista menor, o Red Hand Commando, associado à UVF (Ulster Volunteer Force). Dois fuzileiros da unidade, com as armas baixas, margeiam o símbolo da unidade. Ao lado, um poema em memória a McCrea, morto em 1989 em conflito com o republicano IPLO (Irish People’s Liberation Organization), por sua vez uma divisão do INLA (Irish National Liberation Army).
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Topgun McKeag
No centro do mural está Stevie
Topgun McKeag, comandante militar dos UFF (Ulster Freedon Fighters) na área da Shankill Road, ligados à UDA (Ulster Defence Association). Morto em 2000, ele ganhou o apelido em razão de uma tradição entre os paramilitares loialistas, de conceder o título de
Topgun (algo como “Melhor Pistoleiro”), em uma cerimônia anual, ao membro recordista de mortes no período – McKeag tinha a reputação de levar o prêmio quase todo ano. Segundo os católicos, ele teria matado 12 pessoas, entre homens e mulheres.
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Jackie Coulter
Em agosto de 2000 as tensões aumentam entre os próprios loialistas, com ataques e mortes de lado a lado, entre a UDA (Ulster Defence Association) e a UVF (Ulster Volunteer Force). Jackie Coulter, membro da UDA, foi o primeiro a ser morto nos conflitos, logo ali ao lado, na Crumlin Road. Durante quatro meses, sete pessoas foram assassinadas e 200 famílias tiveram que deixar suas casas, para fugir de intimidações.
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Freedom 2000
O mural foi pintado para marcar a data de libertação de um grupo de presos loialistas, em 2000. O mais interessante, porém, é o retrato da evolução da arquitetura das prisões na Irlanda do Norte ao longo do tempo. Na parte superior, à esquerda, aparece a antiga Crumlin Road Prison (ou
The Crum para os íntimos), hoje transformada em um museu. Logo à direita, no desenho menor, as primeiras tendas que abrigaram os prisioneiros políticos na Long Kesh Prison, e abaixo os chamados
H Blocks, também em Long Kesh, cenário da greve de fome dos prisioneiros republicanos em 1981.
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
William McCullough
Mais uma homenagem a um paramilitar loialista morto pelos republicanos, nesse caso
Lieutenant Colonel (Tenente Coronel) William McCullough, membro da UDA (Ulster Defence Association), assassinado por integrantes do INLA (Irish National Liberation Army), em 1981. Um filho de McCullough, Alan, teria sorte semelhante, fuzilado por membros da própria UDA, da qual fazia parte, em 1999.
Onde: Hopewell Crescent – Área da Shankill Road
Ulster Blood
Mural que lembra James Buchanan, o décimo quinto presidente norte-americano (entre 1857 e 1861), cujos pais imigraram para os Estados Unidos de Derry, na Irlanda do Norte. Abaixo da águia americana e dos dizeres “De pioneiros a presidentes”, um retrato de Buchanan sobre uma frase dele: “Meu sangue do Ulster é minha herança mais preciosa...”
Onde: Shankill Road
Crossroads
Pintura em comemoração aos “90 Anos de Resistência”, que tiveram início com a
Ulster Covenant, o abaixo assinado de Lord Carlson contra o autogoverno da Irlanda, completados em 2012. Em quatro quadros são retratados os primeiros voluntários da UVF (Ulster Volunteer Force), os soldados do Ulster que combateram pelos britânicos na Primeira Guerra Mundial, os paramilitares loialistas durante as
Troubles e uma encruzilhada (
Crossroads).
No último quadro, à esquerda, há um homem encapuzado empunhando um fuzil e duas placas com os dizeres
Eire (Irlanda) e
War (Guerra). À direita, os sinais apontam para
United Kingdom (Reino Unido) e
Peace (Paz), enquanto um homem trajando terno sustenta um livro onde se lê
Good Friday Agreement, o acordo assinado em 1998 que colocou fim aos 30 anos de conflito aberto entre republicanos e loialistas.
Onde: C. Coy Street – Área da Shankill Road