terça-feira, 8 de abril de 2014

Troubles

Division Street, que separa católicos e protestantes em Belfast
“It is not those who can inflict the most, but those who can suffer the most who will conquer”*
Terence McSwiney


Quando desembarco na rodoviária de Belfast, depois de uma tranquila viagem de duas horas e meia desde Dublin, chego à conclusão de que pelo menos uma coisa une indissoluvelmente os dois lados da Irlanda: o clima. Debaixo da mesma chuva fina que cobria o Sul, vento e frio de cinco graus, me arrasto até o hotel, no sul da capital do Norte. Mas no dia seguinte, em um memorável golpe de sorte, o céu azulou e o sol saiu, embora a temperatura não tenha mudado muito...
Salto cedo da cama e encaro o Ulster Fry – um café da manhã à base de ovos, bacon, salsicha e pão de batata, tudo frito –, consciente de que seria um longo dia de caminhada para conseguir cobrir os quilômetros do meu roteiro, em busca da herança mais visível dos conflitos na Irlanda do Norte: os Belfast Murals. Às dezenas, os enormes e coloridos murais se espalham por diferentes áreas da cidade, tanto nos bairros católicos quanto nos protestantes, com diferentes temas, é claro.
Pela proximidade de onde eu estava, decido começar pela área da Falls Road, o maior enclave católico e centro nevrálgico do movimento republicano em Belfast, onde ficava o comando do IRA (Irish Republican Army, o Exército Republicano Irlandês) e que hoje abriga a sede do Sinn Féin (o braço político do grupo). Analisando o mapa, a lógica indicava que bastava seguir rumo oeste, cruzar o Westlink (uma autoestrada) e depois seguir pela Falls Road na direção leste, até o centro. O problema é que em Belfast – e na Irlanda do Norte em si – a lógica é outra...
Atrás das casas, um alambrado de três metros para separar bairros
Logo depois de atravessar o Westlink, me deparo com uma muralha, coberta de arame farpado. Sigo margeando o muro por uns 200 metros, em busca de uma rua que dê passagem a oeste, mas só encontro um beco sem saída. Sou obrigado a voltar todo o trajeto e percorrer a autoestrada até achar uma rotatória com o acesso. Essa foi uma das formas encontradas de estabelecer a paz entre católicos e protestantes, isolando completamente os guetos na maioria das ruas, mantendo apenas algumas passagens, mais fáceis de controlar...
Finalmente encontro um caminho para a Falls Road e tenho a primeira mostra do que viria pela frente. Uma pichação grita: “Rot in hell Thatcher scum!” (Apodreça no inferno, Thatcher escória!), em uma “homenagem” à primeira-ministra Margaret Thatcher, falecida no ano passado, que chefiou o governo britânico durante os duros anos de repressão às Troubles, durante o final dos anos 70 e ao longo dos 80. Ao lado da pichação, começa o Collusion Wall, com o nome, a foto e a data de morte de dezenas de vítimas católicas do confronto.
Depois do acordo para a Partição de 1921 (que estabelece a divisão da Irlanda, mais detalhes no post “Do calabouço ao pub em 800 anos”), da Guerra Civil e da proclamação da república, em 1949, as coisas mais ou menos se acalmam no Sul. É aí que o conflito migra para o Norte... Em Belfast, enquanto a cidade crescia, os dois lados do confronto ocupavam seus guetos, os católicos na área da Falls Road (oeste da cidade), Markets (sul) e Short Strand (leste), enquanto os protestantes, em maioria na capital, se estabeleciam nas regiões da Shankill Road (noroeste), Sandy Row (sudoeste), New Lodge (norte) e East Belfast (leste).
"Apodreça no inferno, Thatcher escória!"
As duas comunidades pouco se misturavam, liam os próprios jornais, frequentavam pubs diferentes e faziam as compras em comércios divididos. Até nos esportes havia uma clara divisão, os católicos dedicados ao hurling (uma espécie de hóquei na grama, mas em um campo bem maior) e ao gaelic football (uma fusão ininteligível entre rugby e futebol), enquanto os protestantes praticavam críquete e rugby.
Mas o conflito ia além da religião. Enquanto os loialistas (protestantes, a favor da manutenção do Norte no Reino Unido) tinham autogoverno e o próprio parlamento em Stornmount, os católicos se viram em situação desfavorável. Com a maioria protestante construída no tratado que separou os seis condados a nordeste da ilha para formar a Irlanda do Norte, a minoria católica não conseguia representação política, além de sofrer discriminações na alocação de habitações públicas e emprego.
O resultado foi a radicalização, com paramilitares se armando dos dois lados. Entre os católicos o IRA renasce, coadjuvado pelo INLA (Irish National Liberation Army, o Exército Irlandês de Libertação Nacional). Entre os protestantes, a UDA (Ulster Defence Association, Associação de Defesa do Ulster) e a UVF (Ulster Volunteer Force, Força Voluntária do Ulster) também se armam.
A fagulha que causa a explosão vem do outro lado do Atlântico, com o movimento pelos Direitos Civis nos Estados Unidos. Em 1968 começa uma onda de passeatas católicas em Derry e Belfast, pedindo igualdade de direitos – e a integração da Irlanda do Norte ao Sul. No ano seguinte, em agosto, uma dessas passeatas descamba para a violência no Bogside, em Derry. Durante três dias e três noites, a cidade assiste ao confronto entre católicos e a polícia, e pela primeira vez na história usa-se gás lacrimogênio para reprimir um movimento no Reino Unido.
Collusion Wall, com a lista de católicos mortos durante as Troubles
Na terceira noite, o conflito se espalha para outras cidades do Norte e em Belfast ruas inteiras nos guetos católicos são queimadas, atacadas pelos protestantes. Os católicos, claro, retribuem a gentileza. Quando a poeira baixa, além de oito mortos, 1.500 pessoas tinham perdido suas casas no lado republicano e outras 300 na parte loialista. Mais tarde os fabricantes de leite da Irlanda do Norte dariam conta da falta de 43 mil de suas garrafas, usadas no confronto em forma de coquetéis Molotov.
Percebendo que a Irlanda balançava à beira do precipício da guerra civil, o governo britânico resolve intervir e despacha o exército para a província. As tropas inicialmente organizam o caos, desfazendo as barricadas improvisadas que católicos e protestantes tinham erguido para proteger os próprios bairros e estabelecendo barreiras oficiais – em parte mantidas até hoje. Em seguida, os soldados começam uma busca nos guetos por armas, o que aprofundou a radicalização no lado católico.
Em 1970, com o objetivo de diminuir a pressão sobre seu reduto, especialmente na área da Falls Road, o IRA começa uma campanha de atentados a bomba no centro de Belfast, na tentativa de atrair o exército para a área central e reduzir sua presença nos bairros. A resposta britânica veio no ano seguinte, com a Operation Demetrius, uma operação em larga escala para prender suspeitos de atos terroristas. No final de 1971, havia cerca de 1.500 internos na Irlanda do Norte detidos sem julgamento – a liderança do IRA, porém, atravessa o processo intacta.
Escritório central do Sinn Féin, na Falls Road
Em 1972, mais uma vez em Derry, outra passeata termina em conflito, dessa vez com um batalhão de paraquedistas do exército britânico. O saldo foi de 13 civis mortos, no que ficou conhecido como Bloody Sunday (sim, aquele mesmo da música do U2). Vendo mais uma vez a situação fugir do controle, o Reino Unido dá um passo adiante, suspende o parlamento da Irlando do Norte e estabelece o Direct Rule, assumindo diretamente o governo da província.
Nos anos seguintes, o IRA leva a campanha de atentados para o coração da Inglaterra, incluindo uma bomba detonada no centro de Birmingham em novembro de 1974, a segunda maior cidade do país, matando 21 pessoas e causando 162 feridos. Em seguida, o governo reage com uma série de atos de prevenção ao terrorismo, dando poderes draconianos ao exército para lidar com o IRA. Os procedimentos legais são suspensos na Irlanda do Norte, com os acusados passando a ser julgados por um único juiz, sem júri. As condenações, assim, tinham que ser obtidas através de confissões – que por sua vez passaram a ser obtidas usando táticas funestas de pressão física e mental.

Homenagem aos mortos na Greve de Fome de 1981
Mas voltemos à Falls Road... Tomo uma travessa da rua e chego ao Irish Republican History Museum, um pequeno museu dedicado à história republicana da Irlanda. No interior da sala única, peças de memorabilia de décadas de conflito estão em exposição, fuzis armalite usados pelos fuzileiros do IRA, granadas, uma coleção incrível de cartazes de propaganda republicana, uniformes de policiais e até uma porta da Long Kesh Prison, o principal presídio político da Irlanda do Norte nos anos 70 e 80.
Na entrada, uma senhora nos seus 60 anos me recebe com um sorriso triste. Sem me desviar dos olhos de um azul bem pálido, escuto Susi me falar sobre as Troubles. Ela conta sobre as visitas ao ex-marido, em Long Kesh, em 1976, e imagino quantos casamentos devem ter sido interrompidos pela prisão. Explico que para mim é difícil compreender um conflito por causa de fé, acostumado com a diversidade religiosa do Brasil, no que ela replica: “Vivi aqui minha vida inteira e até para mim é difícil de entender...”
A história desse presídio, em si, é um capítulo à parte nas Troubles. A partir de 1975 o governo britânico começa a abandonar gradualmente a política de prisões sem julgamento, mas ao mesmo tempo coloca em ação um plano para tentar isolar os radicais do IRA da comunidade católica, no que ficou conhecido como “normalização”, ou “criminalização”. A ideia era descolar dos condenados republicanos o rótulo de presos políticos, substituindo-o pelo de terroristas.
A situação ganha em dramaticidade no dia 16 de setembro de 1976. Ao dar entrada em Long Kesh, Kieran Nugent, um membro do IRA condenado a três anos de prisão por ter roubado uma van, é perguntado sobre seu número para receber o uniforme do presídio. A resposta dele desencadeou uma série de acontecimentos que chegariam ao ápice cinco anos depois: “You must be joking me” (Você deve estar brincando comigo). Como preso político, ele se recusa a usar o uniforme e exige manter as próprias roupas.
"Nossa vingança será a risada das nossas crianças"
Nugent foi colocado em uma cela sem roupa nenhuma, obrigado a se cobrir com um cobertor – tornando-se o primeiro dos Blanket Men (algo como “Homens da Manta”). Outros presos do IRA imediatamente se juntam ao protesto. Segundo o regulamento da prisão, sem roupas os detentos não podiam deixar as celas, perdendo o direito a visitas. A desobediência à regra de usar o uniforme também cancelava o benefício de remissão de pena por bom comportamento (que na Irlanda do Norte podia reduzir o tempo de prisão até pela metade). Em revolta, eles destroem os móveis das celas, que são retirados. Confinados a um cubículo de 2 por 2,5 metros, tudo que os Blanket Men tinham era um colchão, cobertores, uma bíblia e o companheiro de cela. Seu único contato com o mundo externo era através de uma carta censurada por mês.
A situação se arrasta e em 1978 surge um novo conflito, dessa vez por causa do banho dos presos. Os Blanket Men eram autorizados pelos guardas a sair da cela para se lavar, cobertos com uma toalha. Mas em determinado dia lhes foi recusada outra, extra, para se secar. Eles reclamam o direito à privacidade, de se manterem cobertos mesmo dentro do lavatório, o que lhes é negado - era o começo do Dirty Protest (Protesto Sujo).
Sem sair mais da cela, os presos recusam-se a tomar banho ou fazer a barba e começam a fazer suas necessidades em pinicos. Em determinado momento, surgem conflitos com os guardas sobre o esvaziamento dos potes e uma consequente troca de gentilezas, com o conteúdo deles sendo atirado de lado a lado. O resultado é que desse dia em diante os guardas se negam a recolher os pinicos e os Blanket Men começam a esfregar as fezes nas paredes e despejar a urina por baixo das portas, como forma de se desfazer deles.
O impasse sobre o direito ao status de presos políticos prossegue até 1981, quando em 1º de março os presos dão início a uma greve de fome, exigindo cinco demandas: usar as próprias roupas, livre associação, não exigência de trabalhar na prisão, direito de receber entregas e a restauração da remissão de pena aos Blanket Men. A greve começa com um só preso, Bobby Sands, logo acompanhado de mais quatro - ele morre depois de 66 dias recusando comida, que era posta diariamente aos pés do seu colchão.
O protesto dura 217 dias, em meio a uma série de intervenções tentando negociar o fim da greve de fome, da Igreja Católica à Comissão Europeia de Direitos Humanos, diante de uma inflexível Margareth Thatcher. Ao final, dez presos estavam mortos. Não imediatamente após o final da greve, mas em pouco tempo suas cinco demandas acabariam por ser quase todas atendidas.

Portão controla acesso entre as áreas da Falls Road e Shankill Road
Agradeço à Susi e deixo o museu, em direção à área protestante de Shankill Road, uma rua que corre praticamente paralela à Falls Road, uns 400 metros ao norte. Enfrento o mesmo problema para atravessar para o outro lado, até encontrar uma passagem, pela Northumberland Street. Ali encontro um portão de ferro cortando a rua, que pelo menos naquele momento estava aberto, com outro semelhante sobre a calçada, para os pedestres.
Caminho até a Shankill Road e dobro à esquerda. Em poucos metros, começo a encontrar um mural atrás do outro, agora com imagens e dizeres loialistas. Paro em frente a um que me chama especialmente a atenção: sobre um fundo bem azul, quatro paramilitares armados de fuzis, vestidos de negro e com capuzes, cercam o símbolo da UVF (Ulster Volunteer Force), logo abaixo de cinco rostos com os respectivos nomes, vítimas das Troubles.
Do outro lado da rua, um senhor de cabelos brancos e olhos bem azuis, da mesma palidez dos da Susi, acena para mim. Eu me aproximo e entabulamos conversação. No começo patino para decifrar o carregado sotaque, mas depois de alguns minutos já consigo entender uns 70% do que ele fala.
Mural onde encontrei o Martin e comecei meu tour
Ao perceber meu interesse, Martin decide me levar para um tour particular pela Shankill Road. Ofegante mas determinado, ele vai subindo a rua, enquanto tento arrastar um pouco meus passos para lhe dar tempo de respirar. Aproveito e pergunto sobre a barreira entre as áreas católica e protestante, quero saber quando os portões são fechados. “Fecham nos dias de parada e à noite”, ele responde. “Você sabe, as pessoas bebem e ficam estúpidas... Isso evita que eles atirem pedras uns nos outros, além de outras coisas também.”
Paradas e bandeiras atualmente são os principais motivos de desentendimento entre as duas partes, em especial as realizadas pelos loialistas, quando passam pelas áreas católicas. Uma tradição centenária na Irlanda do Norte, as duas principais paradas protestantes são realizadas anualmente, em julho. A de 1º de julho recorda a Batalha do Somme, que teve início no mesmo dia, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, na França – com participação da 36ª Ulster Division combatendo os alemães ao lado das forças britânicas. Já no dia 12 de julho os loialistas ganham as ruas vestidos de laranja, para lembrar a Batalha do Boyne, de 1690, quando o protestante Willian of Orange derrotou o católico James II em Drogheda, na costa leste da Irlanda, assegurando o trono inglês.
Os católicos veem essas marchas como uma provocação e um símbolo odiado da dominação unionista no norte da Irlanda, embora eles também realizem suas próprias paradas. A principal delas acontece na Páscoa, em lembrança ao Easter Rising (Levante da Páscoa) de 1916, que deu impulso à independência e criação da República da Irlanda.
Martin me pergunta se vi o mural em homenagem à rainha, Elizabeth II. Digo que vi, e que ali eles parecem gostar mais dela do que na Inglaterra. “Nós amamos nossa rainha”, ele responde, com um sorriso satisfeito. E brinca: “Se você vier aqui e falar mal da rainha, é melhor ter asas nos pés...” Aproveito a deixa e pergunto se, afinal, eles se consideram ingleses. Ele abana a cabeça enfaticamente de um lado para o outro, e diz: “We are Ulster Irish – and British” (Somos irlandeses do Ulster – e britânicos).
Diamond Jubilee, com seu carneiro e o telefone público da UDA
Em frente ao memorial que lembra a Batalha do Somme, com o sol começando a se pôr, eu agradeço e meu guia se despede de mim com um caloroso aperto de mão, ele ofegando Shankill Road acima e eu rua abaixo, rumo ao centro. No caminho, com os pés pedindo descanso, paro para tomar um pint no Diamond Jubilee, famoso por ser um reduto da UDA (Ulster Defence Association), o maior grupo paramilitar protestante. O pub transpira loialismo até no nome, em homenagem ao jubileu de diamante da rainha Victoria, a primeira vez que um monarca britânico atingiu 60 anos de reinado – marca igualada em 2012 por Elizabeth II.
Apesar da animosidade contida da moça no balcão e do interior surreal - incluindo banquetas de madeira, um mosaico retrô formado pelos ladrilhos do piso e a cabeça de ovelha de gravata borboleta e chapéu – nada denuncia o passado paramilitar. No fundo do bar, porém, noto um telefone público. Em uma época em que não havia celulares, devia ser essencial para comandar as operações da UDA. Fico imaginando se – ou quantas – execuções foram ordenadas através daquela linha...
Nos últimos anos as coisas parecem mais ou menos acomodadas na Irlanda do Norte. Depois de uma série de comandos de cessar fogo definidos e desrespeitados dos dois lados durante os anos 90, no dia 10 de abril de 1998 finalmente chegou-se à paz, com o chamado Good Friday Agreement. O acordo previa um governo conjunto entre protestantes e católicos, libertação de presos, redução da presença de tropas britânicas na província, direitos civis iguais para as duas partes, desarmamento de paramilitares e até referendos para uma possível unificação da Irlanda.
Área da baixa Shankill Road, nas proximidades do Diamond Jubilee
Alguns conflitos se seguiram, mas em maio de 2005 o IRA abandona sua campanha militar de décadas e promete seu próprio desarmamento. Em março de 2007 os dois lados que eram inimigos mortais são eleitos em um governo de coalizão e em julho o exército britânico anuncia o fim da sua missão de 38 anos na Irlanda do Norte. As estimativas mais recentes dão conta de 3.600 mortos.
O que ainda resta das Troubles, como transparece na questão das passeatas, bandeiras e nos murais, é como lidar com o passado... O caminho da reconciliação, porém, hoje parece mais claro, com a visita a Londres do presidente da República da Irlanda, Michael D. Higgings, a primeira de um chefe de estado irlandês ao Reino Unido. Recebido primeiramente pela rainha Elizabeth II e seus Irish hounds - gigantescos e peludos cachorros de origem irlandesa que devem ter inspirado a concepção do dragão do filme História sem Fim - , o velhinho simpático discursou ao Parlamento em um tom amistoso, inescapável dada a integração econômica dos dois países, com um comércio bilateral girando em torno de 30 bilhões de pounds por ano (R$ 110 bilhões). A visita de hoje retribui outra, da rainha a Dublin, em 2011.
As partes mais importantes de sua fala Higgings mesmo traduziu para o gaélico, apontando a trilha para o entendimento com uma leve ressalva sobre a Irlanda do Norte: "É claro que ainda há uma estrada a ser percorrida, a estrada de uma reconciliação criativa e permanente". Ao final, foi aplaudido em pé, incluindo o primeiro-ministro britânico David Cameron e o líder trabalhista da oposição, Ed Miliband.
Por falar em murais, não sobrou muito espaço aqui para eles. Foi proposital, é que eles merecem um post próprio, que virá a seguir.

*"Não são os que podem impor mais, mas os que suportam sofrer mais que irão prevalecer”
Terence McSwiney

Bibliografia:
Para quem quiser saber mais sobre a questão irlandesa, em especial na Irlanda do Norte, recomendo um livro e um filme, ambos sobre a greve de fome de 1981:
Tem Men Dead (David Beresford). Não encontrei edição em português. É o relato inacreditável de todo o episódio, inclusive com os batidores da greve de fome e um panorama excelente de todo o conflito irlandês, escrito por um jornalista que foi correspondente do jornal inglês The Guardian na Irlanda do Norte durante as Troubles.
Hunger (Enda Walsh e Steve McQueen). O filme, sobre a mesma greve de fome, é de 2008 e foi co-escrito pelo diretor de 12 Years a Slave, que ganhou o Oscar nesse ano.

Um comentário: