Normanton Road |
Eles vêm de todas as partes, mas aqui estão em casa. É só pisar na Normanton Road para se deparar com as primeiras kebab stores, Indian breakfasts e Eastern European food stores - essas vendem produtos de todo o Leste Europeu, anunciando nos letreiros comidas da Polônia, Ucrânia, Lituânia, Eslovênia, pode escolher. Lá dentro, incontáveis opções de embutidos, salames, salsichas, linguiças, presuntos, patês, conservas diversas e as cervejas... Cada lojinha dessas tem, logo na entrada, um refrigerador formando uma verdadeira parede de latas de cerveja dos países do leste.
A Normanton Road é a principal avenida ligando o centro de Derby a dois bairros que concentram boa parte dos imigrantes na cidade (Normanton e New Normanton), especialmente os menos privilegiados. A Mill Hill Lane, nossa rua, fica na fronteira entre a região central e New Normanton, o ponto de conexão entre os dois mundos. As estatísticas mostram que 90% da população de Derby nasceu no Reino Unido, o que deixa 10% para os imigrantes – desse total, 7% são da União Europeia (a maioria do Leste) e 3% do resto do mundo. Bom, se um a cada dez moradores da cidade é não-britânico, parecem estar todos concentrados aqui... E, posso dizer? Aos poucos também vou me sentindo em casa.
A parede de cervejas do Leste Europeu |
Todos falam algum inglês mas ninguém se chama pelo nome ali. Como em um daqueles antigos filmes americanos de guerra, todos têm um apelido. O organizador da confusão é o Rasta, obviamente com seus dreadlocks, que envia mensagens de celular avisando dos treinos. O CG, magro, esforçado, não gosta de perder nem dividida. No meio de campo, Iaia, alto, com um moicano à la Cissé, tem a elegância de um Ademir da Guia, mas é um pouco fominha.
Pearl Beauty, especializado em maquiagem para noivas indianas |
Há um supermercado razoavelmente bem abastecido quase na esquina de casa, o Lidl, uma cadeia de lojas espalhadas pela Europa toda, mas para comida fresca o caminho é seguir mais adiante, rumo ao Pak Foods. Lá, sim, os donos paquistaneses (daí o Pak no nome) garantem que as verduras estejam sempre novinhas, e os barbudos de toca muçulmana me servem de carneiro, frango ou peixe processados segundo os rituais Halal. Ali você encontra qualquer tipo de tempero imaginável – há um corredor só para isso -, além de bons pães nan, saborosas azeitonas da Turquia e arroz indiano, distribuídos pelas prateleiras compartilhadas com velhinhos de longas barbas e mulheres de véus que permitem ver só os olhos (burca, ainda não vi nenhuma). O único porém é que o Pak Foods não vende nenhuma bebida alcoólica, a religião não permite.
Pak Foods |
Farinha para fazer pão chapatti, da marca do tigre, no Pak Foods |
Seu nome é Rudi e veio da Eslováquia, já há alguns anos. Pergunta de onde sou e, surpreso ao ouvir Brasil, arrisca uns acordes que não reconheço no teclado. Com a barreira da língua, a conversa morre aos poucos. Agradeço e sigo caminho, ouvindo os acordes ciganos se distanciando aos poucos.
*A letra é da música do Led Zeppelin que dá nome à crônica, Immigrant Song. Difícil traduzir, mas acho que em português seria algo assim:
“Pra frente nós avançamos com remos implacáveis, nosso único objetivo será a costa oeste.”
Carreguei um vídeo curto no YouTube com o som do Rudi e uma vista da Normanton Road. Segue abaixo o link:
http://youtu.be/LBaTYvY_WVk
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